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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre cultura, flores, terra e abelhas

Cultura vem do verbo “cólere” e exprime a idéia de amanhar, cuidar e revolver a terra, para semear boa semente e produzir mais e melhor. Parênteses 1: como pensar no desenvolvimento e educação de um povo sem a inclusão cultural do mesmo? Uma criança sem a chance de ser cuidada, semeada, terá força para germinar? Quais condições são propícias para essa sementinha crescer sadia?

Ao longo da história da humanidade, a palavra cultura foi ganhando outros significados. Na Idade Média, a França referia-se à cultura como o culto religioso, uma vez que a visão de mundo era centrada numa perspectiva teocêntrica e a Igreja Católica detinha o poder.

Já no século XVIII, a Ciência Moderna traz a ampliação do termo para “Cultura das Letras” ou “Cultura das Ciências”, expressando o progresso individual do ser, estando assim diretamente vincula à educação do indivíduo. Parênteses 2: A semente foi plantada na terra e agora, será que vai chover? Essa terra está afofada, úmida, o ambiente está propício para fincarem suas raízes e o caule crescer, cada vez mais, para cima?

O termo é traduzido no século XIX por historiadores alemães. Kultur (alemão) é entendido como sendo o progresso intelectual e social da humanidade, representando movimento, aperfeiçoamento e evolução do espírito. Assim, a cultura compreende os costumes, as instituições, as idéias, as artes e as ciências.

Mais tarde, sobretudo em Cícero, o verbo “cólere” vinha sempre acompanhado do termo “animus”: cultura animi. O homem que cultiva a natureza, cultiva também a sua própria natureza. Era, assim, sinônimo de educação, no sentido de aprimoramento do espírito.Parênteses 3: O homem culto tem a partir de então a chance de cultivar o melhor de si e também a de aprimorar seu espírito. Uma semente germina sem adubo? Sem o sol? Depois de germinada, ela nasce, cresce, e depois morre? Outras plantas virão dessa semente? O que é a morte? Qual o papel do pólen na natureza?

Já os gregos, mais afeitos à vida social e política, em lugar do conceito de “cultura animi” possuíam o de “politéia”, adquirida através da “paidéia”, isto é, educação da polidez e da nobreza para a vida social da polis. A este conceito, os romanos denominaram, mais tarde, de “civilitas”, civilidade, donde se originou “civilização”, educação. Aqui, o homem começa se expressar socialmente, e a cultura integra e traz a noção de identidade. Parênteses 4: O pólen se espalha sozinho? E as abelhas, qual sua importância nessa cadeia? Elas trabalham sozinhas ou em conjunto? Mas então são seres muito evoluídos as abelhas, não? A natureza realmente é perfeita... então com o que se preocupar, não é mesmo?

Cultura significa ainda os próprios resultados da ação do homem sobre a natureza, Neste sentido, ela é “fruto da terra e do trabalho do homem”. Desde logo, distinguem-se os produtos naturais e os produtos culturais. Os produtos naturais são os que brotam livremente da terra ou da natureza. Os produtos culturais, ao contrário, resultam da ação da natureza, mais a ação do homem, isto é, os que o campo gera quando o homem o lavra e o semeia. Parênteses 5: Qual é a função do agricultor, do homem da terra? E do educador? Cabe aqui compará-las?

Cultura, assim como polidez ou civilidade, aparece como a ação do homem, individual ou coletivo, sobre a natureza, terra, deuses, amigos ou o próprio homem, no sentido de dispensar-lhes especiais cuidados, a fim de que produzam mais e melhor, ou sejam propícios e colaboradores. Parênteses 6: Existe povo sem cultura? Existe cultura sem identidade? Não seriam em alguma instância sinônimos?

Ainda filosofando e brincando com a metáfora, notei que foram os sofistas gregos que contrapuseram, pela primeira vez, a idéia de natureza e a de cultura. Desde então, essa antítese não mais foi esquecida.Desde que o homem se dá conta de si, dá-se também conta de que está no mundo. É a dualidade entre o mundo subjetiva e o mundo objetivo. É a oposição fundamental, que lhe causa curiosidade e espanto, fontes de sabedoria e de atividade. Parênteses 7: a abelha sai do seu habitat, busca o pólen e produz o mel. Ela viaja entre as flores, absorve seu perfume, bebe da fonte e transforma-a em um doce e delicioso alimento.

Assim é a cultura. Vinda do povo, para o povo, dessa troca. Das flores para a produção do mel, do conhecimento. Do trabalho em aguar a semente, de expô-la ao sol, de arar a terra, de adubá-la com conteúdos diversos e abundantes. Do cultivo do que nos alimentará...Dá trabalho, mas no fim vale à pena, vale muito à pena...

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